quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Horizontes de Eternidade


A morte não é um acontecimento da vida. A morte não pode ser vivida. Caso se compreenda por eternidade não uma duração temporal infinita, mas a intemporalidade, quem vive no presente é quem vive eternamente. A nossa vida é tanto mais sem fim quanto mais o nosso campo de visão não tem limites.

Adeus Isabel, agora és apenas de Deus, caminha...


Rui Baião.

Dia dos Santos Inocentes


Inocência De um lado, a veste; o corpo, do outro lado,
Límpido, nu, intacto, sem defesa...
Mitológico rosto debruçado
Na noite que, por ele, fica acesa!

Se traz os lábios húmidos e lassos
É que a paixão sem mácula ainda o cega
E tatuou na curva de alvos braços
As sete letras da palavra: entrega.

Acre perfume o dessa flor agreste.
Álcool azul o desse verde vinho.
De um lado o corpo; do outro lado, a veste
Como luar deitado no caminho...

Em frente há um pinheiro cismador.
O rio corre, vagaroso ao fundo.
Na estrada ninguém passa... Ai! tanto amor
Sem culpa!
Ai! dos Poetas deste mundo!

Pedro Homem de Mello, in "O Rapaz da Camisola Verde"

Perspectivas...

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A Bondade e a Filosofia


Não basta a agudeza intelectual para descobrir uma coisa nova. Faz falta entusiasmo, amor prévio por essa coisa. O entendimento é uma lanterna que necessita de ir dirigida por uma mão, e a mão necessita de ir mobilizada por um anseio pré-existente para este ou outro tipo de possíveis coisas. Em definitivo, somente se encontra o que se busca e o entendimento encontra porque o amor busca. O amor busca para que o entendimento encontre. Este consistiria em demonstrar como o ser que busca é a própria essência do amor! O que busca não tem, não conhece ainda aquilo que busca e, por outra parte, buscar é já ter de antemão e conjecturar o que se busca.

Buscar é antecipar uma realidade ainda inexistente, preparar o seu aparecimento, a sua apresentação. Não compreende o que é o amor quem, como é habitual, se fixa somente no que desperta e desfecha um amor. Se o amor por uma mulher nasce pela sua beleza, não é a complacência nessa beleza o que constitui o amor, o estar amando. Uma vez desperto e nascido, o amor consiste em emitir constantemente como uma atmosfera favorável, como uma luz leal, benévola, em que envolvemos o ser amado - de modo que todas as outras qualidades e perfeições que nele haja poderão revelar-se, manifestar-se e nós as reconheceremos. O ódio, pelo contrário, coloca o ser odiado sob uma luz negativa e só vemos os seus defeitos. O amor, portanto, prepara, predispõe as possíveis perfeições do amado. Por isso nos enriquece fazendo-nos ver o que sem ele não veríamos!

Recomendo: http://videos.sapo.pt/IOZ1DfyT3ZqfluMwjkzr


Rui Baião.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O Eterno no Temporal




A todos os meus amigos e alunos, os votos dum Santo Natal...

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Gratidão sem som...


São raras as acções, que sejam ilustres por si mesmas; dificilmente haverá algumas, que não deixem conhecer que vêm do homem. As maiores realidades admiram-se, porque se não conhecem; e juntamente porque nelas há um rico véu, que as cobre. A beleza em tudo nos atrai; a nossa admiração não pode passar além; donde a encontra, aí fica suspensa, e cega.
Isto sucede nas acções dos homens; as mais sublimes, parece que nos cegam, e suspendem; e talvez seriam detestáveis, se lhes não ignorássemos as causas. Tudo o que tem ar de grande prende a nossa imaginação de sorte, que não fica livre para discorrer, senão no estado de grandeza em que a vê, e não para indagar de onde veio, nem como veio.

Obrigado Henrique, obrigado...

Rui Baião.

Inveja tipo Zé


Ainda mais um colega...

A inveja é uma admiração que se dissimula. O admirador que sente a impossibilidade de ser feliz cedendo à sua admiração, toma o partido de invejar. Usa então duma linguagem diferente, segundo a qual o que no fundo admira deixa de ter importância, não é mais do que patetice insípida, extravagância. A admiração é um abandono de nós próprios penetrado de felicidade, a inveja, uma reivindicação infeliz do eu.

Rui Baião.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

E-mail...


Boa noite.
Ainda se lembra da turma com quem passou dois anos de trabalho na Henriques Nogueira de Torres Vedras? Inclusivamente o ultimo o ano em que lá trabalhou? Nessa altura já seriamos do 11º ano e digamos que nos despedimos em grande, se bem que uma despedida é sempre custosa. À quanto tempo não é? Se ainda se lembra dos alunos dessa mesma turma eu sou a Catarina e um dia deparei me com um mail em que o assunto era "Matriz do 2º Teste de Filosofia" e nessa altura chamou me especialmente a atenção pelo simples motivo de que Filosofia já não fazia parte do leque de disciplinas a frequentar. Mais tarde percebi que teria sido engano e que o remetente era nada mais na menos do que o nosso ex professor Rui Baião. Isto por volta da época em que já frequentávamos o 12º ano de escolaridade.
Actualmente já estamos nos nossos anos de universidade e certamente no relembramos dos anos passados com imensa nostalgia(não que tenham sido assim à tantos), por isso mesmo vinha perguntar lhe se estaria interessado num reencontro, um café ou algo do género. Relembro que sempre que o nome do nosso professor Rui Baião surgia nas conversas podia se sentir uma vontade de voltar a falar dos momentos compartilhados nas salas de aulas, de poder ouvir novamente o famoso Ráuul!, entre muitas outras coisas que gostaríamos de relembrar na sua presença.
Espero por uma resposta positiva da sua parte e obrigado, no caso de realmente se dar ao trabalho de ler este mail forasteiro.
Até um próxima, breve, espero...

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Oração pela Estupidez?



A propósito de um comentário duma colega:

A estupidez é a parte mais passiva e a mais insidiosa da nossa condição. Ela infiltra-se-nos não apenas no nosso consentimento, nas tréguas que nos damos, mas até mesmo no que é uma conquista da nossa infinita pequenez.
Desta forma, cada vez mais me convenço que o Pai-Nosso, oração revolucionária na sua origem e consequências, devia conter «Livrai-nos do mal, mas ainda mais da ESTUPIDEZ!».

Rui Baião.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Regresso à Infância...


A criança é criativa porque é crescimento e se cria a si própria. É como um rei, porque impõe ao mundo as suas ideias, os seus sentimentos e as suas fantasias. Ignora o mundo do acaso, pré-elaborado, e constrói o seu próprio mundo de ideais. Os adultos cometem um pecado bárbaro ao destruir a criatividade da criança pelo roubo do seu mundo, sufocando-a com um saber artificial, e orientando-a no sentido de finalidades que lhe são estranhas.
A criança é sem finalidade, cria brincando e crescendo suavemente; se não for perturbada pela violência, não aceita nada que não possa verdadeiramente assimilar; todo o objecto em que toca vive, a criança é cosmos, mundo, vê as últimas coisas, o absoluto, ainda que não saiba dar-lhes expressão: mas impede-se a criança ensinando-a a ater-se a finalidades e agrilhoando-a a uma rotina vulgar a que, hipocritamente, se chama realidade.

Rui Baião.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Milagre



Se eu procurasse algum milagre no mundo, não seriam os acontecimentos extraordinários que eu chamaria de milagres, mas bem mais o curso normal das estações e a forma invariável das constelações. Se algo pudesse provar definitivamente que há um Deus, seria a ordem e não a desordem, e o retorno constante dos dias e das estações, mais do que o espectáculo de um homem caminhando sobre o mar.

Rui Baião.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Henrique MD


A alegria desmedida e dor muito violenta acometem sempre e apenas a mesma pessoa: pois ambas se condicionam reciprocamente e são também condicionadas juntas por uma grande vivacidade do espírito. Ambas são causadas, não pelo simples presente, mas pela antecipação do futuro. No entanto, visto que a dor é essencial à vida e, pelo seu grau, é também determinada pela natureza do sujeito - o que implica que, na realidade, modificações repentinas, sendo sempre externas, não podem mudar o seu grau -, na base do júbilo ou da dor excessivos há sempre um erro e uma falsa crença.

Todo o júbilo desmedido repousa sempre na ilusão de ter encontrado na vida algo que não se pode encontrar realmente, isto é, uma satisfação durável dos desejos ou preocupações tormentosos e sempre renascentes. Mais tarde, é inevitável que nos separemos de cada ilusão dessa espécie, pagando-a então, quando desaparece, com igual dor amarga, independentemente da alegria que o seu surgimento nos tenha proporcionado.

Nesse sentido, ela assemelha-se por completo a uma altura da qual o único momento de descer novamente é a queda, de maneira que deveria ser evitada: e toda a dor repentina ou excessiva é justamente apenas a queda de tal altura, o esmorecimento de tal ilusão e, portanto, deve ser condicionada. Poder-se-ia, por conseguinte, evitar ambas, se se fosse capaz de abraçar as coisas de modo perfeitamente claro sempre na sua totalidade e na sua concatenação, e de impedir firmemente a si mesmo de lhes conceder de facto a cor que se desejaria que tivessem. A ética estóica visava essencialmente libertar o espírito de toda a ilusão semelhante e das suas consequências, e a dar-lhe, em vez disso, um equilíbrio inabalável.

E eu simplesmente,agora, não sei como me despedir de um amigo que me salvou tantas vezes...

Rui Baião.